Quando Larry Ellison, cofundador da Oracle, se acomodou para jantar no elegante restaurante japonês Nobu, em Palo Alto, no ano passado, estava acompanhado de seu velho amigo Elon Musk.

Os dois já haviam se encontrado ali várias vezes, mas naquela ocasião se sentaram frente a frente com Jensen Huang, da Nvidia. O objetivo dos bilionários era claro: garantir acesso a mais chips da Nvidia, conhecidos como GPUs, que impulsionam a revolução da inteligência artificial generativa.

“Eu descreveria o jantar como eu e Elon implorando ao Jensen por GPUs: ‘Por favor, aceite nosso dinheiro. Não, não, aceite ainda mais’”, contou Ellison posteriormente a uma plateia de investidores. “Aliás, eu paguei o jantar… deu certo. Funcionou.”

A cena mostra como Ellison, 81, voltou ao topo do setor de tecnologia. Amigo próximo e aliado de Steve Jobs em uma era anterior, ele agora constrói novas alianças pessoais e enfrenta as intensas rivalidades da indústria para ocupar lugar na vanguarda da revolução da IA.

No início deste ano, Ellison apareceu no Salão Oval da Casa Branca ao lado de Sam Altman —arquirrival de Musk— para o lançamento de um gigantesco projeto de infraestrutura de IA, batizado de Stargate.

Nesta semana, veio à tona que a OpenAI avançou nesse projeto ao fazer um pedido de US$ 300 bilhões à Oracle, tornando a empresa a peça central de uma nova onda de negócios que transformou a companhia fundada há 48 anos no ativo de IA mais falado em Wall Street.

Com as ações da Oracle em disparada, a fortuna de Ellison cresceu mais de US$ 100 bilhões nesta semana, levando-o a ultrapassar Musk e se tornar, ainda que brevemente, o homem mais rico do mundo, com quase US$ 400 bilhões.

A reinvenção do executivo para se tornar uma figura central da IA consolidou uma posição de grande sobrevivente do Vale do Silício.

“Ele está sozinho. Não há ninguém como ele, que tenha prosperado no Vale do Silício por 50 anos”, disse Marc Benioff, CEO da Salesforce e ex-protegido de Ellison. “Outros ficaram pelo caminho; ele perseverou.”

Durante anos, com a ascensão de uma nova geração de líderes de tecnologia, Ellison parecia condenado ao passado.

O banco de dados da Oracle ainda era fundamental nos sistemas de governos e empresas, mas pouco se via como peça do futuro. Até recentemente, ele havia evitado os pesados investimentos necessários para competir na computação em nuvem —um setor dominado por Amazon, Microsoft e Google.

Mas, segundo uma pessoa próxima a Ellison, ele sempre prestou atenção às transições tecnológicas. Outros executivos podem sair na frente, mas Ellison espera o mercado amadurecer e observa para onde o dinheiro está indo.

Para ele, não importa ser o primeiro, mas sim o último a permanecer. Agora, com uma jogada tardia que pegou carona no vento favorável da IA, ele colocou a Oracle frente a frente com os gigantes da nuvem.

O Ellison que conduz a ascensão da Oracle impulsionada por IA é uma figura menos polêmica do que o personagem extravagante que brilhou no boom da internet nos anos 1990.

Criado em Chicago por pais adotivos, ele parecia gostar da fama de “bad boy” da tecnologia. Do escândalo contábil que quase arruinou a Oracle em 1990 ao uso de detetives particulares para investigar a rival Microsoft de Bill Gates, sua empresa nunca esteve longe de controvérsias.

Se o caminho da Oracle parece mais estável hoje, deve-se muito a uma das grandes parcerias discretas do Vale do Silício. Safra Catz, ex-banqueira e braço direito do bilionário, na prática comanda a empresa desde o fim dos anos 1990, segundo ex-funcionários, embora Ellison só tenha deixado formalmente o cargo de CEO em 2014.

Isso deixou Ellison livre para traçar estratégias de alto nível e se dedicar a hobbies bilionários que sempre atraíram a mídia —de vencer duas vezes a America’s Cup de vela a comprar quase uma ilha inteira no Havaí.

A proximidade de Catz com Donald Trump —ela integrou a equipe de transição presidencial em 2016— também pode ter ajudado Ellison a manter boa relação com o presidente, apesar de sua suposta deslealdade ao apoiar outros candidatos republicanos.

Um sinal desse prestígio foi o sucesso da Oracle ao superar sua velha inimiga Microsoft e ser escolhida como potencial sócia minoritária das operações do TikTok nos EUA. O negócio nunca se concretizou, mas o serviço americano da rede social hoje roda em data centers da Oracle.

A energia de Ellison parece inesgotável. Ao lado da esposa, Jolin, ele tem se dedicado à nova família —o casal tem quatro filhos pequenos.

Ele também voltou seu interesse de longa data por pesquisas médicas e científicas, especialmente sobre doenças do envelhecimento, para o novo Ellison Institute of Technology, em Oxford, no Reino Unido.

E ainda há Hollywood. Depois de apoiar a filha Megan em sua empreitada no cinema, agora banca o filho David, que assumiu recentemente o controle da Paramount e estaria preparando uma oferta pela Warner Bros Discovery.

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