Uma análise de amostras da Lua indicam que o interior de um lado do satélite natural, o afastado (nunca visível da Terra), é mais frio que o do outro lado, o próximo (sempre voltado para o nosso planeta). A conclusão é dos autores de um estudo publicado na revista Nature Geoscience nesta terça-feira (30).
Entre as amostras analisadas está a que foi colhida no lado afastado —também chamado de oculto— pela missão Chang’e-6, da China, em 2024. É a única já obtida pelo programa espacial de um país naquela face do satélite.
A composição química de minerais dessa amostra mostrou que o material se formou a partir de lava dentro do manto lunar a cerca de cem quilômetros abaixo da superfície há 2,8 bilhões de anos, cristalizando a uma temperatura de aproximadamente 1.100 graus Celsius.
Os cientistas compararam essas informações com dados de amostras de rochas previamente estudadas que se cristalizaram no manto do lado próximo do satélite.
Descobriu-se que a amostra da Chang’e-6 formou-se no interior lunar a uma temperatura em torno de cem graus Celsius mais baixa do que a das 33 amostras extraídas do lado próximo do satélite durante as missões Apollo, da Nasa, e por uma sonda espacial chinesa em 2020.
Os pesquisadores disseram acreditar que essa diferença entre os dois lados persiste até hoje.
“Nossos resultados demonstram a existência de assimetria térmica entre o manto do lado próximo e o do lado afastado”, afirmou o geocientista Yang Li, da University College London e da Universidade de Pequim, que liderou o novo estudo.
“Isso nos aproxima um passo da compreensão da dicotomia da Lua, que apresenta uma diferença dramática entre os dois lados em sua superfície, como vulcanismo, espessura da crosta e topografia”, acrescentou ele.
O lado afastado possui uma crosta mais espessa e é mais montanhoso e repleto de crateras. Parece que aquele lado do satélite foi menos vulcânico no passado do que o lado próximo, por isso tem menos manchas escuras de basalto, um tipo de rocha formada pela lava há muito tempo. Já a superfície do lado próximo é mais lisa e majoritariamente coberta por planícies vulcânicas escuras.
A Lua, assim como a Terra, formou-se há cerca de 4,5 bilhões de anos. O vulcanismo na Lua, na Terra e em outros corpos planetários envolve a erupção de rocha derretida do manto —a camada logo abaixo da crosta— para a superfície. O local de pouso da Chang’e-6 foi a bacia Polo Sul-Aitkin, uma cratera em uma área com a crosta mais fina do satélite, útil para encontrar evidências relacionadas ao vulcanismo.
A Chang’e-6 usou uma pá e uma broca para obter material após chegar à superfície lunar em junho de 2024, e depois o devolveu à Terra.
Devido à atração gravitacional da Terra, a Lua sempre mostra o mesmo lado para nosso planeta. Mas as diferenças de temperatura no interior podem não ter relação com isso.
Os pesquisadores levantam a hipótese de que o interior do lado afastado da Lua pode ser mais frio do que o do lado visível em decorrência de uma quantidade menor de elementos como urânio, tório e potássio, que liberam calor devido ao decaimento radioativo.
Alguns cientistas têm sugerido que essa distribuição desigual de tais elementos dentro do satélite natural da Terra pode ter sido desencadeada pelo choque de um asteroide ou outro corpo celeste com o lado afastado no início da história lunar. Isso poderia ter perturbado o interior da Lua e deslocado material mais denso, contendo mais elementos produtores de calor, para o lado próximo.
Existem também hipóteses de que a Lua, em seus primórdios, pode ter colidido e se fundido com uma segunda lua menor que orbitava a Terra. Como resultado, suas diferenças internas atuais refletiriam as diferenças térmicas entre as duas pequenas luas antes de colidirem.
“Compreender a origem dessa dicotomia lunar é essencial para reconstruir a história de formação da Lua, sua evolução térmica e desenvolvimento e pode ter implicações para entender a origem e evolução de outros planetas”, afirmou Li.