Há cerca de 23 milhões de anos, uma espécie de rinoceronte sem chifre estabeleceu-se no ambiente desafiador do Ártico canadense, que na época era mais quente do que hoje, mas ainda registrada neve e meses de escuridão durante o inverno.

Fósseis do Epiatheracerium itjilik foram encontrados na Ilha Devon, no arquipélago ártico do Canadá. Em torno de 75% do esqueleto estava intacto, o que permitiu aos cientistas ter uma boa compreensão do animal. Seus restos foram descobertos na cratera Haughton, com aproximadamente 23 quilômetros de largura.

O rinoceronte polar viveu no início da época do Mioceno, um período de diversificação de muitos grupos de mamíferos. Até então, não se conhecia nenhum rinoceronte que tivesse vivido em latitude tão elevada. O sítio fóssil está localizado em Nunavut, o território mais setentrional do Canadá.

Com aproximadamente um metro de altura, ele aproximava-se do tamanho do rinoceronte indiano moderno e era menor que os rinocerontes africanos modernos.

“Durante o Mioceno, a Ilha Devon era muito mais temperada e arborizada, bem diferente do deserto polar que existe lá hoje”, afirmou Danielle Fraser, chefe de paleobiologia do Museu Canadense da Natureza em Ottawa e autora principal do estudo publicado na última terça-feira (28) na revista Nature Ecology and Evolution.

A região costumava ser quente durante o verão, porém no inverno esfriava o suficiente para nevar e havia meses de escuridão. Fraser comparou o clima daquela época ao atual observado no sul da província canadense de Ontário ou no norte do estado de Nova York.

“É um mistério como animais como um rinoceronte sobreviveram, embora saibamos que mamíferos modernos cavam a neve usando cascos e chifres para acessar plantas”, disse Fraser.

“Nosso estudo destaca a importância do Ártico na evolução dos mamíferos”, acrescentou a pesquisadora. “Frequentemente pensamos nos trópicos como centros de biodiversidade —e eles são. Mas, quanto mais descobertas fósseis fazemos no Ártico, mais claro fica que foi uma região essencial na evolução dos mamíferos.”

O rinoceronte polar consumia folhas de árvores e arbustos enquanto vagava por uma floresta que, com base no pólen fossilizado encontrado no local, apresentava pinheiros, lariços, amieiros, abetos e bétulas. Os fósseis indicam que a criatura tinha um focinho estreito, como os de animais de hoje que se alimentam de folhagem.

O espécime pode ter desenvolvido uma pelagem devido às temperaturas congelantes do inverno, segundo Fraser. Rinocerontes grandes com chifres e extensas pelagens, os chamados rinocerontes-lanosos, viveram durante a última Era do Gelo, contudo não eram estreitamente relacionados a essa espécie.

Outros fósseis descobertos no local incluem os da espécie Puijila darwini, um pinípede com patas em vez de nadadeiras.

Os rinocerontes apareceram pela primeira vez há 48 milhões de anos e se espalharam por quase todos os continentes —as exceções são América do Sul e Antártida. Hoje existem cinco espécies, porém mais de 50 são conhecidas a partir do registro fóssil.

Embora chifres já tivessem evoluído em alguns rinocerontes, a espécie polar não possuía um. Ela também era bem diferente de outros rinocerontes norte-americanos do Mioceno, como o Teleoceras, que era grande, tinha pernas curtas e peito em forma de barril como um hipopótamo, com um pequeno chifre.

Conforme detalhado em um estudo publicado em julho, do qual Fraser é coautora, cientistas conseguiram extrair e sequenciar proteínas antigas do esmalte dentário do rinoceronte polar. As proteínas oferecem informações valiosas sobre um organismo e sobrevivem muito mais tempo que o DNA. Essa descoberta ajudou os pesquisadores a compreender melhor a árvore genealógica dos rinocerontes.

Os parentes mais próximos do rinoceronte polar viviam na Europa, no Oriente Médio e sudoeste da Ásia. Isso indica que seus ancestrais cruzaram da Europa para a América do Norte através de uma ponte terrestre que antes se acreditava ter desaparecido há cerca de 50 milhões de anos.

“Nosso estudo revela que os rinocerontes estavam cruzando por pelo menos 20 milhões de anos a mais do que pensávamos. Isso é, de fato, corroborado por estudos geológicos mais recentes que mostram que as duas rotas do Atlântico Norte —uma do Reino Unido passando pela Islândia até a Groenlândia e a outra da Finlândia passando por Svalbard até a Groenlândia— eram potencialmente transitáveis durante o Mioceno”, disse Fraser.

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