A autoestrada A5, que liga Lisboa a Cascais, é há décadas um dos maiores símbolos da dependência do automóvel em Portugal. Construída no início da década de 1990, tornou-se rapidamente uma das vias mais congestionadas do país, com longas filas nos acessos a Lisboa e aos polos empresariais de Oeiras. Hoje, circulam por ali diariamente mais de 120 mil veículos, muitos deles ocupados apenas por um passageiro. Para milhares de trabalhadores e residentes, a experiência é sempre a mesma: tráfego denso, tempo perdido e frustração.

É neste contexto que surge o projeto BRT A5 — Bus Rapid Transit — na A5, um corredor exclusivo para autocarros elétricos de alta capacidade, pensado para dar uma alternativa real ao carro. O objetivo é simples e ambicioso: transformar uma das vias mais saturadas do país numa artéria onde os transportes públicos ganham prioridade, garantindo velocidade, fiabilidade e sustentabilidade.

Mas afinal o que é o BRT? O conceito, que na sua versão original significa Bus Rapid Transit, é, em termos simples, um “metro de superfície” baseado em autocarros, que procura combinar a flexibilidade do transporte rodoviário com a eficiência do ferroviário. Mas, de que forma se distingue dos tradicionais autocarros já existentes?

Eis alguns exemplos:

Corredores dedicados — circulação em faixas exclusivas, afastadas do tráfego automóvel, o que garante rapidez e regularidade;

Estações de qualidade — paragens semelhantes a estações de metro, com plataformas ao nível do piso do veículo, acessibilidade universal e sistemas de informação em tempo real;

Prioridade semafórica — em cruzamentos, o BRT “manda parar” os carros, reduzindo atrasos;

Frequências elevadas — tempos de espera baixos, comparáveis aos de um metro ou comboio suburbano;

Bilhética off-board — pagamento antecipado antes de entrar no veículo, para reduzir tempos de paragem.

A par das diferenças já anunciadas, a principal vantagem, pelo menos para quem gere e mantém o serviço, assenta no seu custo-benefício: construir um BRT custa uma fração do que seria necessário para uma linha de metro pesado ou ligeiro, mas pode transportar dezenas de milhares de passageiros por dia com conforto e rapidez.

De Lisboa a Cascais por via rápida… mas em transporte público

O projeto de a A5 ter um corredor exclusivo para transportes públicos. Na verdade, e como lembra Joana Baptista, vereadora do Ambiente e Mobilidade na Câmara Municipal de Oeiras, há 20 anos que se fala nisso. “Temos de ter políticas públicas, naturalmente concertadas com o concessionário, a Brisa, no sentido de, naquela faixa, só haver transporte público”, refere a vereadora, que acrescenta que isso garante um elevado nível de eficiência.

“O caminho de ferro hoje, por muita modernização que se faça, nunca vai servir toda esta população, porque estamos a falar de uma linha que descarrega as pessoas numa zona da cidade onde as pessoas hoje não trabalham”, aponta o presidente da Parques Tejo, Rui Rei, que acrescenta que “as pessoas, quando chegam a Lisboa têm depois de apanhar o metropolitano para se deslocarem para a outra zona da cidade”. A vantagem do BRT, defende Rui Rei, é a de que, para além de servir toda a região, “coloca as pessoas no sítio certo da cidade de Lisboa”.

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