A direita ainda reina quase sozinha entre os maiores nomes da política brasileira nas redes sociais.
Jair Bolsonaro continua líder absoluto no Instagram, mas já não cresce no ritmo de antes. O protagonismo hoje está com Nikolas Ferreira, que ocupa a segunda posição entre os perfis políticos da rede. Entre os dez mais seguidos, apenas Lula aparece como representante da esquerda.
Mas, quando o critério é crescimento —e não apenas tamanho—, a surpresa vem justamente da esquerda. Nos últimos 90 dias, quem mais ganhou seguidores foi Jones Manoel, ex-candidato ao Governo de Pernambuco pelo PCB.
Apresentando-se abertamente como marxista-leninista e comunista, sem mandato nem partido oficial (é ligado ao movimento PCBR/Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, sigla que não é reconhecida pelo TSE nem tem direito de participação em eleições), aumentou o número de novos seguidores em mais de 1 milhão, superando a alta de Nikolas, Eduardo e até do próprio Lula. Nesse período, foi o perfil relacionado à política que mais cresceu no Instagram, em patamar similar apenas ao de nomes da direita, como o do próprio Nikolas, Zé Trovão e Allan dos Santos.
No monitoramento da Palver em tempo real de mais de 100 mil grupos públicos de WhatsApp, o cenário ainda é parecido. Excluindo Lula e Bolsonaro, os nomes mais mencionados nos últimos 90 dias foram Eduardo, Nikolas e Fernando Haddad.
Depois aparecem, em menor escala, Cleitinho, Erika Hilton, Damares Alves e o próprio Jones. Esses números, embora menores, revelam quem consegue furar a bolha e permanecer no radar do debate cotidiano. É nesse vácuo que Jones Manoel desponta como figura em ascensão da esquerda digital. Seu crescimento tem como base uma estratégia multiplataforma com intenção deliberada de “furar a bolha”: participar de podcasts conservadores, como Três Irmãos e Inteligência Ltda, e aceitar debates diretos com figuras como Kim Kataguiri e Fernando Holiday.
O ponto de virada veio no confronto com o influencer Wilker Leão no fim de maio, debate que viralizou após repercussão negativa da performance de Wilker. Em julho, o crescimento se acentuou com a viralização de cortes do debate entre Jones com 20 conservadores no canal Spectrum.
Com a participação periódica em debates e confrontos com representantes da direita na internet, Jones conseguiu produzir “picos de engajamento” que mantêm sua imagem relevante e em crescimento no debate digital. Por não se alinhar ao governo Lula, consegue enfrentar conservadores acostumados a atacar apenas o PT. Chama essa tática de “guerrilha digital”: expor-se em ambientes hostis e converter embates em conteúdo potencialmente viral e cortes.
Se Jones cresce pela disposição de entrar em debates e confrontar adversários, Nikolas representa a habilidade oposta: expandir sua base sem se expor ao risco do confronto. É, hoje, um dos políticos mais habilidosos no uso das redes sociais.
Sua estratégia está em vídeos direcionados, produzidos para viralizar sem que precise participar de embates diretos. Nas últimas semanas, porém, sua relevância tem oscilado diante dos embates com Eduardo Bolsonaro.
A direita ainda domina o ecossistema digital, com múltiplas lideranças, presença constante e maior capacidade de viralizar suas pautas. Experiências recentes, como a de Jones Manoel, sugerem caminhos possíveis na esquerda para disputar atenção e narrativas, mas é necessário tempo para entender se esse tipo de crescimento conseguirá se sustentar em um ambiente ainda amplamente controlado pela direita.