Um conjunto de fósseis descoberto em terras do Novo México representa um grupo dos últimos dinossauros que viveram na América do Norte. O achado, objeto de um estudo publicado na revista Science na última quinta-feira (23), tem o potencial de resolver uma longa disputa paleontológica.
Há 66 milhões de anos, a queda de um asteroide na península de Yucatán levou ao fim da Era dos Dinossauros. Há décadas, paleontólogos têm debatido se o impacto desse corpo celeste culminou na eliminação de uma dinastia então florescente ou se apenas significou um golpe final para uma população em declínio.
Durante grande parte do século 20, pesquisadores que estudavam o fim do período quando houve o impacto do asteroide, o Cretáceo, concentraram-se nas terras áridas ricas em fósseis nos estados americanos de Montana e Wyoming. Ali foram localizados restos de espécies como o Tyrannosaurus rex e o Edmontosaurus annectens.
A presença nessas regiões de só um predador dominante e de poucas espécies de grandes herbívoros representa uma paisagem menos biodiversa do que aquelas em eras anteriores, segundo o paleontólogo Andrew Flynn, da Universidade Estadual do Novo México, um dos autores do novo artigo.
Mas, no início dos anos 1900, paleontólogos descobriram nos estados do Novo México e no Texas vários dinossauros diferentes daqueles encontrados mais ao norte do país, segundo Flynn.
Um conjunto particularmente notável de fósseis foi encontrado ao sul de Farmington, no Novo México. Esse tesouro incluía o de um Alamosaurus de 30 metros de comprimento e 80 toneladas, que estava “entre os maiores saurópodes que já existiram, em qualquer lugar, em qualquer época”, segundo o paleontólogo Steve Brusatte, da Universidade de Edimburgo, coautor do novo artigo.
Apesar de os restos dos animais significarem uma descoberta empolgante, os paleontólogos não tinham certeza da idade deles, de acordo com Flynn. Alguns sugeriram que eles pertenceriam a uma fase ligeiramente anterior do período Cretáceo, da qual o registro fóssil de dinossauros é significativamente mais conhecido.
Em 2013, Flynn iniciou a investigação da idade daqueles fósseis encontrados no Novo México. Ele e seus colegas contaram com um aliado incomum: o magnetismo.
Ao longo da história, segundo Flynn, a polaridade do campo magnético da Terra inverteu-se a cada meio milhão de anos. Ao medir a direção do polo magnético nas rochas da formação e comparar os dados com a idade geoquímica dos cristais nos arenitos circundantes, a equipe conseguiu determinar com precisão a idade da formação.
“As rochas foram depositadas nos últimos 380 mil anos do período Cretáceo”, afirmou Flynn. Isso quer dizer que são aproximadamente na mesma época dos ecossistemas de dinossauros mais famosos cujos fósseis foram localizados em áreas mais ao norte do país. “Estes são os últimos dinossauros vivos no Novo México [sudoeste] antes do impacto do asteroide.”
Brusatte observou que os fósseis dos dinossauros localizados nas terras do sudoeste e do norte “são muito diferentes uns dos outros”. A população do Novo México reunia animais como tiranossauros e triceratopes e os herbívoros mais comuns eram hadrossauros com cristas e gigantescos saurópodes de pescoço longo, ambos totalmente ausentes mais ao norte.
Os pesquisadores viram evidências de comunidades de dinossauros radicalmente diferentes no norte e no sul. Eles, portanto, argumentaram que a América do Norte ainda abrigava uma população diversificada de dinossauros.
As evidências, argumenta a equipe, sugerem que o asteroide chegou como um choque brutal para uma próspera variedade de espécies.
“Os dinossauros ainda estavam fortes até o momento em que o asteroide atingiu [a Terra]”, afirmou Brusatte. “Não há sinal de que estivessem gradualmente se extinguindo, como muitos paleontólogos acreditavam antigamente. Realmente parece que o asteroide abateu os dinossauros em seu auge.”
Na avaliação do paleontólogo Michael Benton, da Universidade de Bristol (Inglaterra), a diversidade dos dinossauros do Novo México mostrada no novo estudo não significa que declínios não estivessem ocorrendo em outras partes da América do Norte ou em outras regiões do mundo.
Benton, que não participou da nova pesquisa, acrescentou que os dinossauros do oeste da América do Norte parecem ter diminuído de 43 espécies conhecidas no início do Cretáceo para 30 durante os últimos 6 milhões de anos do período, mesmo que houvesse habitats ricos em diferentes faunas “onde os climas eram favoráveis”.
O também paleontólogo Philip D. Mannion, da Universidade College London, que igualmente não esteve envolvido no novo estudo, considerou a análise robusta. A seu ver, se não fosse por um súbito acidente astronômico, “a Era dos Dinossauros quase certamente teria continuado por muito mais tempo e poderia até mesmo ainda ser o caso hoje”.